Sou filha dos meus pais há 35 anos. Sempre soube que gostavam de mim. Tinha poucas dúvidas tirando talvez uma ou outra fase na adolescência em que duvidei disso e de toda a existência universal.
Os meus pais fizeram o melhor por mim e pelos meus irmãos. Umas vezes falharam, outras acertaram em cheio.
Deram-me roupa, casa, comida, educação e mimo. E eu achei que era só isto. Não havia muito mais para além disto. Não havia muito mais do que o dia-a-dia da casa, da escola, dos banhos e dos jantares. Dos beijinhos de boa noite, dos castigos, das discussões porque esta casa está virada do avesso e passo o dia a arrumar as vossas coisas, das saídas à noite, dos cozinhados, de pôr a mesa, das férias, das Páscoas e Natais com a família, dos almoços de Domingo em casa das avós.
Sabia que havia amor por ali. Sabia que faziam por mim. Mas ser filho é das coisas mais egoístas que já vi. Vamos estando. Mesmo quando somos bons filhos - há filhos muitos melhores e muito mais dedicados do que eu - somos sempre seres que pairam por ali a dar alegrias sem perceber muito bem como e preocupações de todas as maneiras possíveis, também sem perceber muito bem como.
E um dia passamos de filhos a pais.
A partir do momento em que ouvimos o nosso filho chorar pela primeira vez queremos agradecer à nossa mãe.
Quando damos de mamar de 2 em 2 horas, mudamos 9 fraldas por dia, arrumamos a cozinha, a sala, a casa para receber visitas, cozinhamos e penteamos o cabelo, queremos agradecer à nossa mãe.
Quando passamos a noite em claro porque aquele bebé é novo e não o ouvimos bem respirar porque não percebemos nada do assunto e encostamos o ouvido a ele e respiramos de alívio porque ele também respira, queremos agradecer à nossa mãe.
Quando todos os dias à mesma hora - porque é importante manter as rotinas que ajudam a que tudo o resto funcione bem - damos o banho, vestimos, damos jantar e deitamos, queremos agradecer à nossa mãe.
Quando ouvimos pela primeira vez que a mãe é má e feia e vai a fugir para o quarto abraçada a si mesma, amuada e triste e em marcha e queremos zangar e dar beijos ao mesmo tempo e o que é que eu faço, o que lhe digo, queremos agradecer à nossa mãe.
Quando caem, se magoam, engolem moedas, se engasgam, fazem sangue pela primeira vez, estão tristes na escola, temos que lhes tirar a chucha e a fralda e o ó-ó, queremos agradecer à nossa mãe.
Quando temos que decidir se perdemos a guerra e não lhes damos verdes porque não gostam e cerram os dentes e querem antes sumo e chocolate e coisas que não têm nada a ver e não gosto de bocadinhos na sopa, nem de puré que é tão prático para o dia-a-dia ou se temos que lutar para que sejam fortes e saudáveis, queremos agradecer à nossa mãe.

Quando chega um irmão e todos nos dizem que é uma coisa absolutamente natural mas um tem ciúmes e o outro tem dias e ainda não aprendemos a estar em dois sítios ao mesmo tempo - depois passa a ser possível, juro - e temos que lidar com a logística emocional e damos a um de mamar e a outro o jantar e ele fica na alcofa a chorar enquanto se lê uma história à mais velha com ar absolutamente normal sem mostrar o pânico - porque eles sentem - queremos agradecer à nossa mãe.
E quando tudo está bem, eles estão felizes, alegres, de sorriso na cara, os sentimos completos e sabemos que estamos a fazer um bom trabalho, queremos agradecer à nossa mãe.
Quando olho para os meus filhos penso como é possível ter alguém a gostar tanto assim de mim, como eu gosto deles.
Vivi anos e anos sem me aperceber deste amor que é de facto impossível de compreender até o sentirmos por alguém que vem de nós. Com 5, 10, 20 anos adoramos os nossos pais e achamos que eles não nos percebem. E depois, um dia vêm ao mundo os netos deles que nos mostram o quanto eles nos amam e tudo aquilo que fizeram por nós.
Ser filha e depois ser mãe é de longe a maior lição da minha vida.

Deram-me roupa, casa, comida, educação e mimo. E eu achei que era só isto. Não havia muito mais para além disto. Não havia muito mais do que o dia-a-dia da casa, da escola, dos banhos e dos jantares. Dos beijinhos de boa noite, dos castigos, das discussões porque esta casa está virada do avesso e passo o dia a arrumar as vossas coisas, das saídas à noite, dos cozinhados, de pôr a mesa, das férias, das Páscoas e Natais com a família, dos almoços de Domingo em casa das avós.
Sabia que havia amor por ali. Sabia que faziam por mim. Mas ser filho é das coisas mais egoístas que já vi. Vamos estando. Mesmo quando somos bons filhos - há filhos muitos melhores e muito mais dedicados do que eu - somos sempre seres que pairam por ali a dar alegrias sem perceber muito bem como e preocupações de todas as maneiras possíveis, também sem perceber muito bem como.

A partir do momento em que ouvimos o nosso filho chorar pela primeira vez queremos agradecer à nossa mãe.
Quando damos de mamar de 2 em 2 horas, mudamos 9 fraldas por dia, arrumamos a cozinha, a sala, a casa para receber visitas, cozinhamos e penteamos o cabelo, queremos agradecer à nossa mãe.
Quando passamos a noite em claro porque aquele bebé é novo e não o ouvimos bem respirar porque não percebemos nada do assunto e encostamos o ouvido a ele e respiramos de alívio porque ele também respira, queremos agradecer à nossa mãe.
Quando todos os dias à mesma hora - porque é importante manter as rotinas que ajudam a que tudo o resto funcione bem - damos o banho, vestimos, damos jantar e deitamos, queremos agradecer à nossa mãe.
Quando ouvimos pela primeira vez que a mãe é má e feia e vai a fugir para o quarto abraçada a si mesma, amuada e triste e em marcha e queremos zangar e dar beijos ao mesmo tempo e o que é que eu faço, o que lhe digo, queremos agradecer à nossa mãe.
Quando caem, se magoam, engolem moedas, se engasgam, fazem sangue pela primeira vez, estão tristes na escola, temos que lhes tirar a chucha e a fralda e o ó-ó, queremos agradecer à nossa mãe.
Quando temos que decidir se perdemos a guerra e não lhes damos verdes porque não gostam e cerram os dentes e querem antes sumo e chocolate e coisas que não têm nada a ver e não gosto de bocadinhos na sopa, nem de puré que é tão prático para o dia-a-dia ou se temos que lutar para que sejam fortes e saudáveis, queremos agradecer à nossa mãe.

Quando chega um irmão e todos nos dizem que é uma coisa absolutamente natural mas um tem ciúmes e o outro tem dias e ainda não aprendemos a estar em dois sítios ao mesmo tempo - depois passa a ser possível, juro - e temos que lidar com a logística emocional e damos a um de mamar e a outro o jantar e ele fica na alcofa a chorar enquanto se lê uma história à mais velha com ar absolutamente normal sem mostrar o pânico - porque eles sentem - queremos agradecer à nossa mãe.
E quando tudo está bem, eles estão felizes, alegres, de sorriso na cara, os sentimos completos e sabemos que estamos a fazer um bom trabalho, queremos agradecer à nossa mãe.
Quando olho para os meus filhos penso como é possível ter alguém a gostar tanto assim de mim, como eu gosto deles.
Vivi anos e anos sem me aperceber deste amor que é de facto impossível de compreender até o sentirmos por alguém que vem de nós. Com 5, 10, 20 anos adoramos os nossos pais e achamos que eles não nos percebem. E depois, um dia vêm ao mundo os netos deles que nos mostram o quanto eles nos amam e tudo aquilo que fizeram por nós.
Ser filha e depois ser mãe é de longe a maior lição da minha vida.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarQue texto lindo!
ResponderEliminarMuito obrigada Sô :)
EliminarAmei as suas palavras... Emocionam ate...
ResponderEliminarObrigada Andreia. Um beijinho.
EliminarEu toda a vida ouvi a minha mae dizer «quando fores mae vais ver...» , nao gostava nada mas enfim , entendo! A minha filha ainda nao saiu cá pra fora e ja sinto que ela me vai ensinar muito ...
ResponderEliminarSe vai! :) Que corra tudo bem. Um beijinho.
Eliminarui... nem sei como começar...
ResponderEliminarSou mãe de um menino com 15 meses, perdi a minha mãe um mês antes de engravidar... e tudo o que escreveu faz-me sentido, cada choro, cada sorriso, cada conquista, cada birra... tu queres agradecer à tua mãe e eu agradeço todos os dias ...
Obrigada por estas palavras, um beijinho e tudo a correr bem para si!
Um grande beijinho pela tua mãe. Nem imagino o desgosto. E tenho a certeza que ela também se orgulha de ti como mãe e como filha.
EliminarObrigada.