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A família precisa de férias


Quando era pequenina passava um mês de férias no Algarve. Também fomos para São Pedro do Sul mas foram dois isolados anos que deram descanso ao nosso querido Alvor. O carro ia cheio até ao tecto, todos apertados e não era uma logística nada pacífica. Havia gritos, horas marcadas, frases certas, e uma frase batida que nos assustava o suficiente para termos tudo pronto à saída.
Faltam 15 minutos para a largada. A largada normalmente era pelas 6 da manhã. O meu pai fazia contas para estar à hora dos camiões, pelo meio dia, a passar a Marateca. 
10 minutos para a largada!
Eram proíbidos sacos soltos. De plástico. Necessaires fora da mala. O que ficasse de fora não ia.
A mala era arrumada ao pormenor, com minúcia e seguia um projecto, pensado na noite anterior. Primeiro as malas grandes, depois a televisão, depois os quadros por cima, e as molduras que o meu pai levava para disfarçar a decoração típica das casas de férias da altura. 
A nossa, era quase sempre a mesma, colchas de cetim e almofadas com penas, por isso até percebo o meu pai... 
5 minutos para a largada! 
Esperávamos fora do carro a partida e éramos assistentes do médico cirurgião, o nosso pai.
Mala verde, aquele saco, a antena, varinha mágica, panela de pressão. 
Levávamos tudo para esse mês de férias.
E largada. 
Lá íamos a perguntar se ainda faltava muito e quantos carros já tínhamos ultrapassado, a contar os carros encarnados, verdes, pretos, a discutir quem é que da última vez tinha ido ao meio, enjoados, com fome, vontade de fazer chichi, sem parar, sem poder comer no carro, chichi rápido, ansiosos, excitados.
Quando chegávamos só podíamos respirar depois de estar tudo fora do carro e arrumado nos sítios certos. Assim que estava tudo impecável em casa íamos às compras do mês e enchíamos três carrinhos que nos davam direito a entradas no Zoomarine ou Slide&Splash.
A minha mãe ficava em casa a organizar. As roupas, a comida, os quartos, a cozinha.
E depois, finalmente estávamos prontos para um mês inteirinho de férias, planeadas desde janeiro, com casa escolhida. Tínhamos mil programas e liberdade q.b.
Voltávamos a Lisboa fartos de praia, com cores que nunca mais voltei a ter e descansados. Havia tempo para tudo
Hoje as férias são diferentes e pensadas de maneira diferente. Nem sempre dá para fazer tudo seguido. Já houve uns dias no Natal, outros no Carnaval e outros nos feriados e se forem duas semanas seguidas é o céu.
É nas férias que nos conhecemos melhor uns aos outros, outra vez. Que os vemos a voltar ao mar depois de um ano inteiro, e de repente nadam sem bóias e arriscam ir à parte funda da piscina, que experimentam marisco, que se riem por coisas tontas, que o pai e a mãe são mais tempo o marido e a mulher e aproveitam muito mais os dias, que há tempo para estar mais com um, olhar para ele, não ligar às rotinas e deixa-los cair na sala, a ver televisão, até não se aguentarem mais de pé. Há tempo para jogar jogos, raquetes, passeios com camaroeiros na mão, apanhar conchas, carreirinhas, gargalhadas, gelados mesmo antes do jantar e noites quentes à conversa.
Há tempo para repensar a vida, fazer planos, balanços. Para olhar para o futuro e para parar. Acima de tudo para parar.
As férias são muito mais que praia e banhos de mar.e comida sem nexo. São o tempo das famílias, para se voltarem a ver no estado mais puro de todos, com a mente livre e o tempo fora de si. 
Não é preciso ir para longe, para caro, para luxo. Ir, até pode significar ficar. Mas ficar uns com os outros. 
Ansiosa por esses dias. 


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