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Todos os dias da nossa vida

O casamento não é fácil. Não descobri a pólvora com esta constatação, eu sei.
É muito fácil quando casamos e não temos filhos, é absolutamente fácil. 
Eu para ti, tu para mim, nós um para o outro e o mundo inteiro não existe. Cinema, jantar, ficar a dormir no sofá, de manhã, de tarde, até à noite, jantar com amigos, sem amigos, em casa deste, daquele, sair à noite, passeios, museus, fins de semana. Viajar para longe, de avião, sem planeamento.
Tempo para cabeleireiro, compras, depilações ao minuto, lanches com amigas, ler o jornal, torrar na praia, ir ao futebol, ficar para jantar, concertos, festivais. Decorar a casa ao pormenor e ir todas as semanas ver coisas, levar catálogos para casa. 
Depois arruma-se, porta da cozinha fechada e não se pensa mais nisso, casa e trabalho e umas preocupaçõezinhas com contas e acertos e arranjos inesperados do carro. 
O casamento antes dos filhos são umas pequenas férias às quais não damos a mínima importância e passamos levemente por elas porque pura e simplesmente não fazemos ideia. 
Compramos roupa para nós - sem saber que estamos a abastecer o armário para os próximos anos e que tão cedo não veremos coisas novas lá entrar.
Temos tempo para o elogio gratuito. Estás tão gira, ficam-te lindamente essas calças. Temos tempo para nos vermos decentemente ao espelho, pormos baton, pentearmos o cabelo antes de ele chegar.
O casamento antes dos filhos tem poucas ameaças. 
Não há motivo algum para discutir. 
Depois eles nascem e o amor multiplica-se pela casa. Mais amor ali, gigante, absurdo, inexplicável. O amor é incondicional e os filhos nunca são o motivo em si para discutir. É por eles que se duvida, que se discorda e que se questiona tudo, mas nunca é contra eles.
Os filhos são sempre os amores dos pais. 
Esse amor que é maior do que a casa ocupa espaço, muito. 
Quando se tem mais do que um filho ocupa um espaço ainda maior. E há dias em que o marido e  a mulher só dizem bom dia um ao outro quando estão prestes a sair de casa e entram no mesmo elevador. 
- Bom dia querido.
- Bom dia. 
- Dormiste bem?
- Mais ou menos, ele acordou. Fui lá. Estavas ferrada. 
E às vezes fala-se mais ao telefone nos tempos mortos do trabalho - se existirem - e das rotinas do dia do que quando finalmente se está junto. É preciso dar atenção aos miúdos e nisto o outro arruma a cozinha e depois o outro deita e o outro lê a história e vamos andando, assim à vez. 
Às vezes fala-se quando eles adormecem no carro. Quando finalmente se deitam. 
Quando se tem um bom casamento, isto tudo, não significa nada a certa altura. É mecânico, imediato, natural. Uma fase. Uma boa e confusa fase. 
E há vezes em que se pára porque tem mesmo que ser, os miúdos esperam, as brincadeiras acalmam, os avós entram em cena.
Volta o cinema, o jantar fora, o estar com os amigos, o ir correr, ir ao futebol, cada um ter a sua vida, ele jantar com os amigos dele, ela com as dela.
Às vezes dá para manter a individualidade e para manter o casamento. Feliz. 
Dá para ter certezas, parar para olhar mesmo quando se está irritado, pôr em perspectiva, saber que é uma fase e ter na cabeça, todos os dias, a principal razão porque se casou. 
Um dia, também isto tudo de ser pais, nos parecerá  umas férias. 

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