Há um brilho nos olhos dos meus filhos que me diz que me amam. Que sentem orgulho. Que esperam o melhor de mim. Mas sem grande cobrança.
Há neles uma esperança que os faz acreditar numa espécie de mim herói. Numa espécie de mim invencível, numa espécie de mim, perfeita. Apesar de me reconhecerem as imperfeições.
Não há desilusão.
Eu e o pai somos uns heróis.
É por nós que esperam quando a escola acaba, somos nós que estamos para o banho, o jantar, o deitar. Corremos, brincamos e somos fortes porque os levantamos no ar e os carregamos nas cavalitas e os fazemos rir com piadas tontas e caretas.
Eles são o nosso público mais fácil. Basta-nos pouco para os fazermos felizes. Às vezes basta estar lá.
De manhã chamam por nós e não descansam enquanto não virem a nossa cara. À noite querem-nos se têm medo e somos nós quem os faz sentir seguros. Querem o nosso colo, a nossa mão, o nosso abraço. Pedem o nosso aplauso, o nosso orgulho, o nosso sorriso. A nossa companhia.
E temos pouco tempo para andar com esta capa, com este fato que só eles vêm.
Um dia vamos ser pessoas normais.
Que falham. Que erram. Que vacilam.
Vamos desiludir, desapontar. Mesmo que sejamos iguais ao que somos hoje. Os olhos deles mudam e o filtro vai-se.
Seremos humanos.
Nós vê-los-emos sempre heróis, de armadura. De fato. Capa posta.
Enquanto eles crescem criamos os heróis que temos tempo para ser e damos tudo para que nos vejam assim o máximo de tempo possível, que acumulem orgulho e que lhes chegue para que em adultos nos vejam como homens normais que falham, que tentaram ser exemplo e que os amaram sempre.
Mesmo quando lhes falharam alguns poderes.
Ontem às 06:10 das manhã o meu despertador tocou. Nunca pensei escolher acordar tão cedo mas a intenção era boa. Correr. Ainda não sei verdadeiramente correr e estou a aprender. Velocidade, respiração, gestão de esforço, passada. Fui sozinha e fui o tempo todo a agradecer por viver neste país e nesta cidade que logo pela manhã é ainda mais incrível. Há muita gente a correr junto ao rio antes de ir trabalhar e até passou por mim um amigo, na bisga, a quem lancei um meio sorriso, envergonhada pela minha corrida de caracol. Mas tem que se começar por algum lado e eu adorava um dia conseguir participar numa competição oficial e chegar a uma meta, seja ela qual for. Ontem foram 5km. Felizes. E bons. Cheguei a casa cheia de energia e contente por ter vencido a preguiça.
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