Estava em casa. Sentada no sofá. A médica tinha aconselhado andar e já tinha dado o meu passeio, a esforço, de manhã. Estávamos a ver o filme Marley e eu.
Rebentaram-me as águas e eu achava que tinha feito chichi. Não fazia ideia que era assim. Faltava um dia para as 40 semanas. Umas horas para a Leonor.
Não tínhamos outros filhos. Pegámos nas malas. Fomos. E repetimos várias vezes: vamos ser pais.
O meu marido ficou comigo no hospital.
2 anos e 7 meses depois, quando faltava 1 dia para as 40 semanas a minha médica viu-me. Já estava com dilatação, fui para casa, deitei-me para que não nascesse durante a noite e no dia a seguir fui para o hospital.
A logística já foi diferente. A Leonor foi para a avó na noite anterior para podermos sair sem preocupações. Custou-me.
O Zé Maria nasceu por volta da uma e meia da tarde e a Leonor conheceu-o nesse dia, depois da escola.
O meu marido dormiu em casa, com a nossa filha.
Agora estou nas 39 e 1 dia. Com consultas marcadas mas sem fazer ideia do que vai acontecer e quando e como.
A Leonor está doente e queremo-la boa para que possa visitar logo a irmã, pegar ao colo, dar beijinhos. Para a podermos deixar com os tios e avós sem estarmos a pensar em horas de remédios e febres e saudades à mistura e emoções à mistura.
Agora são dois que deixo em casa e tentamos gerir no meio da incógnita de ser dia de escola ou fim de semana, os horários, as disponibilidades, as doenças.... o tempo, as rotinas e a normalidade das vidas deles.
E mesmo sabendo que em 8 dias a Luísa nasce, a gestão destes últimos dias é enervante, sem possibilidade de planos certos, apenas ideias e se's.
Na hora, há de haver um equilíbrio qualquer que resolverá tudo. Seja de que forma for.
A Luísa vai nascer talvez no meio de uma confusão e essa possibilidade só me convence ainda mais de que é absolutamente impossível fazer planos a partir do momento em que somos pais.
Faz-se um esboço.
Este é o meu.
A Luísa vai nascer a meio da semana, talvez 4a, a Leonor vai estar boa ou em franca recuperação e preparada para receber a irmã, o Zé Maria, na dele, vai ter um pequeno choque, reclamar atenção mas uma futebolada ou uma ida à praia com o pai servirá sempre para o animar - quem me dera ser homem -, o pai vai dormir com eles, o parto será simples e facilitar o regresso à casa.
E mesmo que tudo isto saia furado vamos ser pais outra vez. Vamos ser 5.
E vai ser tão confuso e tão bom.
Até já Luísa.
Ontem às 06:10 das manhã o meu despertador tocou. Nunca pensei escolher acordar tão cedo mas a intenção era boa. Correr. Ainda não sei verdadeiramente correr e estou a aprender. Velocidade, respiração, gestão de esforço, passada. Fui sozinha e fui o tempo todo a agradecer por viver neste país e nesta cidade que logo pela manhã é ainda mais incrível. Há muita gente a correr junto ao rio antes de ir trabalhar e até passou por mim um amigo, na bisga, a quem lancei um meio sorriso, envergonhada pela minha corrida de caracol. Mas tem que se começar por algum lado e eu adorava um dia conseguir participar numa competição oficial e chegar a uma meta, seja ela qual for. Ontem foram 5km. Felizes. E bons. Cheguei a casa cheia de energia e contente por ter vencido a preguiça.
Texto maravilhoso. Cheio de amor, acima de tudo amor. Uma hora pequenina! Obrigada pela partilha ❤
ResponderEliminarAté já Luisinha.
Carolina Melo
Por aqui sinto as mesmas dificuldades de logística, mas realmente não é coisa que se possa controlar. Que corra tudo bem e seja fácil e rápido!
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