Ao contrario das mães, nós pais não sabemos. Dizem-nos.
Recebi a notícia, da Leonor, do Zé Maria e da Luísa com
surpresa, apreensão, alívio e orgulho. Todos com imensa alegria.
Em todas as vezes que a MariAna me disse que estava grávida
soube que ia ser pai, já era pai. Mas a realidade só se instala uns tempos
depois.
Senti-me sempre atrasado umas semanas (às vezes meses) em
relação à MariAna, talvez por não ter a barriga a relembrar-me, a mentalizar-me,
a transformar-me. Esse atraso trazia uma
culpa mal disfarçada, como se durante a gravidez fosse um pai de segunda e a
MariAna uma mãe de primeira.
Felizmente tive uns empurrões que me faziam recuperar o
atraso. Ouvir o coração pela primeira vez, em alta voz, é o melhor reality check de todos. Sinto sempre que
eles me estavam a dizer quase só para mim: “estou vivo”.

Seria de esperar que o nascimento fosse o derradeiro
empurrão. Mas não é. Ou para mim não foi.
Foi magnífico, não há outra sensação que supere a primeira
vez que temos os nossos filhos no colo, com juras de amor desnecessárias e
promessas de superação quase utópicas. Mas também aqui fui uma personagem
secundária. O mérito foi todo da MariAna, eu “só” estava a segurar-lhe a mão,
absolutamente comovido pela sua força e determinação - aconteça o que acontecer
sei que nunca me vou esquecer dos olhos dela marejados de amor.
9 meses depois era pai mas ainda não me sentia
verdadeiramente pai.

Depois veio o primeiro reconhecimento, a primeira vez que
acalmou com a minha voz, a primeira vez que adormeceu ao meu colo. O primeiro
sorriso.
E com isso veio o orgulho de estar a fazer qualquer coisa
bem.
Sem saber ler nem escrever os meus filhos fizeram de mim
pai. Deixei de ser um suplente utilizado. Passou a ser com a minha música que adormeciam,
que dobravam o riso, que comiam a sopa toda. Depois de tantas noites mal
dormidas e turnos duplos (no trabalho e em casa) fui promovido a pai a tempo
inteiro.

Ser pai não foi uma epifania, não foi um momento definido no
tempo e espaço, mas sem saber como, de repente o amor foi tão absurdo que me
ultrapassou.
Começou atrasado, admito, mas rapidamente me ultrapassou.
E pretendo passar o resto da vida a tentar apanhá-lo, a
tentar ser o pai refletido no amor que sinto pelos meus filhos.
-->
Este texto trouxe-me às lágrimas, admito..
ResponderEliminarSou Mamã de um baby de nove mesinhos e meio e lembro-me de como "fui" Mãe e como me senti Mãe perfeitamente. Mas só agora que pensei nisto é que me apercebo que nunca perguntei ao meu namorado como foi para ele. Claro que já ouvi incontáveis vezes a sua resposta a outras pessoas perguntarem-lhe sobre isto, sobre o momento, se soube logo como agir, se sentiu logo que era seu Pai.. Mas nunca a respostaa foi para mim. Nunca ouvi um "olhar marejado de amor" na resposta.
Um destes dias vou ter essa conversa. Obrigado por me inspirarem. E espero que me aqueca o coração nem que seja um bocadinho do que o Pai dos seus filhos escreveu me aqueceu ainda agora (e nem vos conheço 😊) - mas sou sua seguidora assídua e parece mesmo que conheço !
São uma família linda.
Micaela