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O meu filho Salvador.

Um dia conheci uma rapariga no jardim. Era meio espalhafatosa e daquelas que mete conversa e tem logo muito assunto. Como devia haver mais, talvez.
Quando demos por nós já tínhamos aberto meio livro da nossa vida e eu já lhe tinha contado - grávida do Zé Maria - que não dormia há mais de dois anos.
Ela ouviu-me sempre sorrindo e disse: como é que uma pessoa que não dorme consegue ser tão simpática?
Nunca mais me esqueci dela. Tanto foi que nos tornamos amigas.
O tempo passou e a Leonor dormia cada vez pior. As técnicas foram mil. E nenhuma funcionava.
Com 39 semanas de gravidez e em desespero entrei na cama de grades dela - já não era a primeira vez- para conseguir dormir um bocadinho.
O Zé Maria nasceu às 40 semanas. Exactas. Um parto induzido e por isso com data marcada.
Dia 7 de Março de 2014.
No dia 6, quando fui ter com a minha médica, disse-me que ele ia nascer depressa, que já estava mesmo ali, para ir para casa, deitar-me para que não nascesse durante a noite e que com certeza entraria no hospital no dia a seguir já em trabalho de parto.
Fui para casa e só pensava numa coisa. E a Leonor?
E ela que não dorme? Como é que a vou deixar 3 dias?
Ela era uma preocupação maior do que tudo o resto.
Nessa noite, conta a minha sogra, dormiu a noite toda.
Foto: Crush
Ele nasceu. Depressa e bem. Perfeito. O meu parto mais tranquilo, soltou um choro de quem quer só dizer que chegou e nessa tarde dormiu logo 4 horas. Ele nasceu e eu dormi 4 horas. Por isso é que o trato (cá dentro) por Salvador.
Foto: Crush


No dia em que ele nasceu e a Leonor o conheceu, entrou na sala do hospital histérica. Tinha 2 anos e 7 meses. Os olhos estavam em todo o lado e em lado nenhum. Demos-lhe o presente que o mano trouxe e ela estava incapaz de estar quieta, concentrada. Todos me diziam que estava feliz - como é que eu não via?? - mas eu sei, ainda hoje, que ela estava completamente perdida. Quando percebeu que não ia com o pai para casa, como era o plano chorou e decidimos que ele ia com ela para casa.
O meu marido que assistiu ao parto e esteve comigo o tempo todo, saiu do hospital para levar a Leonor e passar a noite com ela, porque eu lhe pedi. Era mais importante para mim/nós ela estar bem do que qualquer outra coisa.
Hoje tenho pena que isso tenha acontecido.
Sei que tomámos a decisão certa na altura mas preferia que ele pudesse ter ficado mais tempo com o nosso filho acabado de nascer. Que tivesse gozado comigo aquela calma, aquela paz. O Zé Maria foi o meu parto mais tranquilo, mais fácil. Lembro-me que no caminho para o recobro com ele na cama, ao meu lado, de sentir um orgulho que não dá para explicar. E de o ter namorado como não consegui namorar a Leonor.
Ele foi crescendo, sempre um bebé fácil e a Leonor cada vez pior nos sonos. Foram meses muito difíceis em que tínhamos um recém nascido com os sonos regularizados ou normais para um recém nascido e uma filha com quase 3 que não dormia. Um dia decidimos - porque o Zé Maria era enorme e não estava a caber mais no berço que ele ia para a cama de grades no quarto da Leonor. Chorei imenso. Para mim era cedo e custou-me aceitar que já o estava a tirar dali e também que tinha que me levantar para lhe dar de mamar e perder aquela rotina sonâmbula que adoro. Tinha 5 meses.
Não sei se foi nesse dia, se dias depois, se um ou dois meses depois. A verdade é que a Leonor passou a dormir a noite toda, sem acordar uma única vez.
Ele mudou tudo. Mudou o sono dela, mudou o nosso, mudou a nossa casa. Hoje, a Leonor com 6 continua com um sono muito mais agitado do que ele, com sonhos, idas à casa de banho e para a nossa cama mas na maioria das vezes deita-se e 1 minuto depois está a dormir até ao dia seguinte. O Zé Maria continua como nasceu: pacífico. Tranquilo e dorme que nem um anjinho, o meu filho Salvador.
Foto: Crush




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