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Geração cobaia

Tenho 35 anos.
A geração acima de mim, dos meus pais, foi criada com alguma resistência. Não havia só palmadas, mas sovas, os castigos não eram pensar na vida mas colégios internos longe de casa, não havia grandes psicologias. Havia uma espécie de amor autoritário, amor com ascendência, amor mais distante. Também havia mimo, colo e ternura e o amor verdadeiro existia, tão genuíno como é um amor de pai. Seja em que geração for.

Muitos pais da minha geração mantiveram o estilo de educação que os seus pais lhes deram. Os pais ainda batiam nos filhos, ainda gritavam, ainda exerciam poder. Ainda se educou muito à base do medo, da ameaça e da palmada que nunca fez mal a ninguém.

Muitos de nós cresceram crianças normais e felizes, apesar disso.
E usamos muito a expressão eu levei e não me fez mal nenhum, fiz por merecer e coisas do género.

Desde que fui mãe, há quase 4 anos, que tenho estado atenta a teorias de educação, a modas (porque as há), a tendências, a inclinações e em 4 anos vi muita coisa mudar, em velocidade relâmpago.

Passou a ser praticamente proibido bater nos filhos, gritar, dar palmadas, castigar. Parentalidade positiva, consciente, "educar da cabeça para o coração", com igualdade, fazer por compreender a criança, ser paciente, atento, estável, incansável, activo, presente, justo. Pediatras, pais e coachs juntos para mudar várias gerações e mentalidades.

A meu ver, bem. A meu ver as crianças não devem apanhar, não devem ter medo dos pais, não devem ser consideradas inferiores e devem ser livres de falar, ter opinião à mesa, estar em família. Também devem ter direito à educação, às boas maneiras e à noção de sociedade.

A meu ver se perguntarmos a alguém se prefere que o seu filho pare de fazer uma birra com chantagem emocional, tirar brinquedos, consequências, guerras, chantagem, gritos, palmada ou através de um outro mecanismo pacífico que não envolva nenhum sofrimento de nenhuma parte, os pais preferem a segunda opção.
A meu ver, o caminho é bom. É o ideal.

A meu ver e na teoria.
Para nós pais, o caminho vê-se no momento. Fazer um esforço para ser melhor e respeitar o outro, só pode ser bom e positivo. E para eles?

Estas crianças cobaias da geração consciente ainda não cresceram, são crianças. Estamos com certeza a fazer bem quando não batemos aos nossos filhos, estamos a fazer bem quando os tentamos perceber primeiro em vez de os atirar para um canto do quarto fechados às escuras a pensar porque é que chamaram parva à mãe com 3 anos de idade.
Mas estaremos a fazer tudo bem, como com alguma arrogância (bem intencionada), afirmamos estar a fazer?

A exigência nesta nova geração de pais para que façam tudo como deve ser, para que giram as suas emoções e a dos seus filhos, para que se controlem, não se enervem à frente deles, não reajam mal às birras, não cheguem tarde do trabalho, não os deixem com empregadas, na escola tempo demais, é gigante.

Os pais estão a exigir muito de si mesmos com medo de falhar, medo de ser como as gerações anteriores, medo de ser repreendidos social e interiormente.

Os pais estão numa guerra consigo mesmos, numa gestão de tempo incrível e diariamente a tentar fazer tudo bem, sem falhas.

É uma incógnita como vai crescer esta nova geração. Se vão crescer pessoas confiantes e felizes como achamos que os estamos a criar ou super protegidos, intocáveis e mimados-mal-criados-pequenos-imperadores-sem-estrutura como a geração dos nossos pais muitas vezes (ainda) nos acusa.
Podemos apenas adivinhar como vão ser estes miúdos.

É uma incógnita a imagem que lhes estamos a passar e como falarão de nós daqui a 35 anos. O que acharão do nosso método que com certeza não será infalível ou teremos encontrado a pólvora?

Queremos estar certos de que é melhor como estamos a fazer agora, porque na teoria é. Mas para a geração anterior também o era e hoje somos rápidos a repreender, julgar e contrapor, até a tentar fazer diferente. Mesmo sentindo que nos educaram bem, que lhes devemos a nossa estrutura e os nossos valores, que fizeram o melhor que puderam.
Tal como eles, também nós estamos somente a adivinhar e a desejar que o desfecho seja feliz.



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