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Mensagens

A mostrar mensagens de abril, 2018

De mãos a abanar

Há 7 anos, estava grávida da Leonor, 13 semanas. Fui trabalhar como num dia normal e esse foi, sem eu saber o meu último dia de trabalho. Tal como o trabalho é entendido.  A empresa fechou. Abriu falência e na minha inocência encarei com leveza. Seria só um intervalo.  Mal sabia. Que primeiro um filho depois outro e depois outro e o mundo virado de pernas para o ar e uma coisa leva à outra e eu nunca mais tive um horário fixo. Nunca mais tive um ordenado. Nunca mais tive timings prazos obrigações exigências. Ou alguém mais velho do que eu a exigir. E no entanto tive horários tão rígidos dias tão difíceis tantas noites em branco. Tive reuniões consultas passeios brincadeiras.  Dei mimo 24 horas por dia, estudei os meus filhos de fio a pavio e tentei que também beneficiassem da minha decisão. Ensinei músicas, os sons dos animais, os números os transportes. Levei ao jardim à praia ao parque.  Fiquei com eles em casa quando estavam doentes. Fui a todas as festas reuniões encontros da escol

Amor de pegar e guardar

O nosso amor é tanto. Quando somos pais o amor é de tal forma que vivemos até com receio. Parece demais o tamanho do amor que se tem por um filho. Há medo associado. Medo de perder e uma vontade imensa de viver cada segundo. E falamos muito desse amor. De como é fácil,  incondicional, de como sobrevive a tudo. Aos primeiros anos, às grandes provações e provocações, aos desafios. À adolescência e aos incontáveis  "não gosto de ti", os ditos e os não ditos. Falamos do amor que sentimos por eles que não tem conta. Nem forma. Nem tamanho. Nem tempo. É infinito.  O amor deles por nós, só podemos adivinhar e calçar os seus sapatos, pensando no quanto amamos os nossos pais. É acima de tudo responsabilidade pensar nesse amor. A maneira como eles nos olham demonstra muito mais do que as palavras. É vê-los. Agarrados ao nosso pescoço. Admirados com a nossa força,  incrédulos quando sabemos tantas coisas. De olhos a brilhar quando nos vêem chegar à escola. Quando os acordamos de man

Ser blogger é como ser da Emel

O senhor da Emel - o senhor João - é pai. Tem 4 filhos. Todos os dias sai de manhã para trabalhar depois de orientar os filhos e se organizar com a sua mulher. Todos os dias trabalha horas suficientes para contribuir para a sua casa. Para a escola. Para a alimentação. Para as contas. Ninguém gosta do trabalho dele porque quando o senhor João se cruza na nossa vida é porque (geralmente) fizemos asneira. O senhor João lá cumpre a sua obrigação quando tem que ser e enfrenta pessoas que basicamente lhe querem bater. Mas, é o seu trabalho. E ao final do mês recebe na conta a soma disso tudo. Paga as contas, a escola, leva os filhos ao cinema quando dá e janta fora com a mulher quando o universo se alinha. As bloggers são um bocadinho como o senhor João: toda a gente gosta dele até saberem que trabalha na Emel. As pessoas gostam dos textos das bloggers, das suas casas, dos seus filhos,  das suas sugestões e das suas ideias. Comentam partilham reagem e elogiam. Mas chega o dia em que a

Eu fervia água. A Leonor chorava.

Quando a Leonor deixou de mamar - cedo demais para o que hoje gostaria que tivesse mamado - comecei a dar-lhe leite de fórmula. Não lhe retirou pedaço nenhum e na altura era o que achávamos ser o melhor. Tinha quase 6 meses. Lembro-me de ainda ter dúvidas acerca de muitas coisas. Era a minha primeira filha e por isso a grande cobaia de tudo o que estávamos todos a viver. A cada biberon e no meio de choros e do seu péssimo sono, fervíamos água, esperávamos que arrefecesse ou púnhamos debaixo da torneira fria, num imenso stress. Às vezes no meio de discussões que na altura serviam para extravasar a nossa frustração do momento. Depois, com os outros dois filhos as coisas foram diferentes. Aprendi a relativizar mais e que o choro deles pode esperar (mais um bocadinho) sem causar tanto atrito à volta ou que um colo resolve. Sempre me questionei o porquê de ferver água e esta questão sempre foi motivo de discussão e de dúvidas. Cá em casa a água de todos os dias é a água da torneira

Protegê-los

Ando com eles pela rua de mão dada e olho à minha volta. São 3. Parecendo que não entre um salto e outro pode vir um carro. Eles nem sabem que eu tenho e vivo com o radar ligado. O braço pronto a amparar-lhes as quedas. Sopro a sopa quando ferve. Abraço-os se está frio. Puxo-os para a sombra se me esqueci dos chapéus. Dou a mão a descer os degraus. Ponho os cintos. Tapo-os a meio da noite e uso as mãos para que o shampoo não lhes arda nos olhos. Ponho um penso na ferida. Pego ao colo quando lhes dói o pé para andar. Ponho a mão no canto da mesa quando os vejo directos a ela. Encosto-os a mim quando vem uma ventania e uso o meu guarda chuva para não se molharem muito. Faço o que posso para os proteger das coisas que eles não sabem ou não podem ainda controlar e que eu por enquanto,  sou capaz. Depois há o resto. E isso não está nas minhas mãos. Posso muni-los. Dar-lhes tudo o que tenho para que se consigam defender sozinhos. E faço-o. Sempre que posso e consigo. Quando vêm da esco

E esta moda de se ser perfeito?

Há sempre inúmeras modas a decorrer. Às vezes são tantas que se atropelam e se misturam e também se contradizem. As da comida. As da roupa, maquilhagem. Dos destinos de férias. Das escolas. Da educação. Dos nomes dos filhos. Do exercício físico. Às vezes não são modas ou são tendências. Indiferente para a questão.  Cada vez  mais as mulheres e neste caso específico as mães procuram outras mulheres com que se identifquem. É muitas vezes isso que as faz aceitar alguma coisa em relação a elas mesmas ou ao que se passa em suas casas. É uma forma de nos sentirmos menos sozinhas, de sermos de certa forma validadas, se houver alguém por aí igual a nós. Os blogues passaram a abrir o jogo e as mães a tornar-se menos perfeitas. Aliás, ter defeitos ou assumir a dureza das coisas aproximou as mães. O cenário idílico passou a estar mais longínquo e a ser muito menos realístico. Já não acreditamos que os miúdos não se sujem. Que andem sempre arranjadinhos. Que não comam com as mãos. Que não façam

Aos meus filhos perfeitos

Dorme a noite toda bebé. Come a sopa. Não entornes a sopa enquanto a comes. Não faças birras. Não saias da cama a meio da noite. Não tenhas medos. Sê corajoso. Não entornes o copo pelo caminho. Sê prestável sê bondoso sê persistente. Ouve com atenção. Sê astuto. Sê prudente. Fala quando tiveres o que dizer. Fala com todo o teu coração e sem medo das palavras. Fala só na tua vez. Sê educado. Cordial. Respeita o próximo. Os mais velhos. Usa a tua voz. Grita se for preciso. Não levantes a voz. Fala mais baixo.  Deita-te cedo. Sem aparato. Acorda cedo à semana acorda tarde ao sábado. E ao domingo por favor. Corre descalço sobe às árvores rebola na areia canta dança. Fica sossegado sentado quieto.  Descansa.  Dá-me espaço. Abraça-me.  Sê independente. Abotoa os sapatos. Toma banho sozinho. Veste-te. Sê sempre meu. Não fujas. Fala comigo. Procura-me.   Sê curioso. Esperto. Inteligente. Procura sempre saber mais. Aprende a esperar. Sê paciente. Aguarda... Sê forte. Luta pelo que acreditas. Le

Assim enxovalhados e imperfeitos. Assim vivos. Meus filhos. Bom Domingo. ❤

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