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Dias difíceis.

Toda a gente no mundo tem dias difíceis. É fácil ter um dia difícil e eles acontecem por todos os motivos e mais algum.
Há pessoas que têm vidas difíceis e inevitavelmente dias difíceis. Umas com dias facilitados, outras nem tão pouco. 
Quando se tem um emprego, há muitos dias difíceis que são compreendidos por todos. Reuniões de horas, muito tempo de pé, patrão intragável, ordenado que não compensa, horários absurdos, casos perdidos, mau ambiente, excesso de trabalho, trabalho a menos, tempo perdido no trânsito. Frustrações diárias que merecem todo o apoio e compreensão. 
Quando o nosso emprego são os nossos filhos ter um dia difícil não significa muito. 
Mesmo que o dia difícil comece logo de manhã e termine ao deitar. Estivemos com os nossos filhos ... quão difícil pode isso ser?
Mesmo quando eles em complô se unem para destruir tudo o que há de humano em nós, testar todas as nossas capacidades de raciocínio, levar ao limite toda a nossa paciência e esticar a corda ao máximo.
Um dia difícil de uma mãe é no máximo complicado ou chato. Ninguém quer ouvir que pintaram a parede, que estiveram todo o dia à bulha, que só queriam colo e o jantar entretanto queimou. É superficial e mundano. 
Que estamos frustradas porque nenhuma das nossas técnicas resultou e foi uma absoluta desilusão os planos que tínhamos para o dia, todos falhados e nós a falhar e eles a cobrar. Dizer que tivemos um dia difícil em casa e com os nosso filhos é estarmos a queixar-nos da vida no geral e do universo e a não dar valor ao privilégio que é cuidar diariamente dos nossos pequeninos. Dá Deus nozes a quem não tem dentes.
Um dia difícil depois de uma noite mal dormida, com chuva sempre atrás de nós enquanto vamos buscar um e depois o outro e um quer colo o outro chão e um quer ir para casa e o outro não e depois os banhos, as quedas, os dias em que tudo acontece sem nexo e a nossa paciência está no arame e a nossa capacidade física e a nossa cabeça. E deitar, escolher história, coisas simples que parecem gigantes e olhamos para o relógio. Queremos que durmam, que o dia acabe. E nesses dias difíceis temos a certeza que os amamos mais do que todos os seres do mundo e para além de todas as lógicas. Não consideramos sair, nem dar um tempo, pedir férias, despedirmo-nos, fechar a porta. Ficamos ali, no nosso dia difícil, sem fugas para além dos truques que usamos por dentro, das técnicas que nos ajudam e os ajudam a manter a casa calma, o ambiente calmo, a apaziguar as guerras.
Quando temos um dia difícil não queremos que os nossos filhos desapareçam, só queremos que esse dia passe. Não nos estamos a queixar da vida em geral nem da nossa condição, estamos a queixar-nos daquele dia, daqueles dias ou daquela fase.
É curto o tempo que se tem para falar de um dia difícil com os filhos porque na verdade dito parece sempre de menos e é um assunto muito pouco interessante. 
A realidade, é que às vezes é imenso. Um dia que correu mal em casa mói quando esse é o nosso trabalho. Não há subterfúgio e a escapatória está só no que podemos fazer para melhorar o dia a seguir.


E esperar que amanhã seja menos difícil ou por milagre, absolutamente fácil e aparecer, sem ressentimentos, angústias e com um enorme sorriso na cara.

Comentários

  1. Este texto está assim qualquer coisa de inexplicável, de tão honesto e límpido que é.

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  2. Tão verdadeiro! O pior é mesmo quando o dia dificil não é um, mas uma semana inteira seguida entre noites mal dormidas! E nem ao fim-de-semana há descanso, há apenas alguem com quem partilhar. Mas é na mesma o melhor do mundo, porque os dias bons valem pelas semanas más :) Apesar de tudo, seria tão importante que se desse mais valor ao trabalho da maternidade...

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  3. Meu deus como este texto, como estas palavras disseram tudo o que tantas vezes tento explicar e niguem percebe. So quem e mae sabe o quanto as suas palavras sao valiosas e verdadeiras..Obrigada e bem haja

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