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Sobreviver ao liceu.

Nunca adorei o liceu.
Hoje, tenho inveja dos grandes grupos que se formavam, que se mantiveram, que ainda hoje se juntam, recordam, passam férias juntos e combinam jantares e encontros.
Guardo boas recordações de alguns momentos mas não dessa parte do meu crescimento.
Era envergonhada, tímida, insegura e quando passei de um colégio particular com poucos alunos no Estoril para um grande liceu em Lisboa tive a sensação de estar a mais. Deslocada.
Andei em três liceus entre o 7º ano e o 12º e talvez por isso não tenha formado um grande e coeso grupo de amigos. Não havia tempo.
Fazia grupos de amigas pequenos e inacreditavelmente e por ser "rotulada de beta" onde me senti melhor foi no liceu onde aparentemente havia menos "betos". Hoje em dia não uso esta palavra mas há 20 anos era ela que estupidamente categorizava cada um de nós.
Antes de entrar no liceu lembro-me de pensar que havia meninos diferentes. A minha forma de ser preconceituosa era afastar-me por não saber como reagir. Nunca gozei com ninguém nem maltratei. Mas fiz diferenças. Sem querer. Por ser imatura. Não me aproximava muito das crianças que eram diferentes, que tinham problemas, que sentia mais isoladas. Tinha medo de certa maneira.
Melhor amiga do liceu. E de hoje.
Também senti preconceitos em relação a mim, a vários níveis. Por coisas ridículas como ter sardas, cabelo loiro, vestir cor de rosa, ter os dentes para fora. Por me chamar Maria Ana, por ter um apelido Ferro.
Era tudo suportável. Sentia-me melhor em casa e ia muitas vezes com dores de barriga para a escola. Nunca andei no mesmo liceu que os meus irmãos e sinto que teria sido diferente se isso tivesse acontecido, talvez me apoiasse mais neles ou seguisse o seu exemplo.
Hoje, resolvi alugar um documentário sobre bullying.
Este é um dos assuntos que mais me angustia pensar. Que os meus filhos possam vir a ser maltratados na escola. Que mesmo que os pais lhes deem confiança e segurança para ser fortes, corajosos, mecanismos para enfrentar insultos, calúnias ou implicações, eles tenham o azar de ter sardas, sejam mais introvertidos ou sejam diferentes de alguma forma ou até que sejam escolhidos por implicação aleatória e passem com tristeza aqueles que podem ser os melhores anos da sua vida.
Sei bem que nos Estados Unidos as coisas são diferentes, mais agressivas, mas cada vez mais se assiste, no nosso bom país a casos de bullying violento, persistente, continuado, maldoso, filmado, publicado, e miúdos caluniados e atormentados no dia a dia.
Só posso esperar que vivam a vida com sorte, que se rodeiem de quem os quer bem, que se defendam e que falem connosco, sempre.
Vale a pena ver este documentário, a meu ver, triste por saber que há crianças tão infelizes mas que me elucidou e me deu umas luzes sobre os miúdos de hoje, que não são nem de perto nem de longe como eram os miúdos de ontem.

Comentários

  1. O bullying sempre existiu e é uma parte da realidade tremendamente assustadora. Vivo na esperança e na ilusão de que vou conseguir educar os meus filhos para aprenderes a lidar com isso da melhor forma, sendo que não os podemos proteger de tudo.
    Claro que existem níveis diferentes de violência e o bullying assumiu contornos bem diferentes do nosso tempo (basta existir a Internet) e existe muito entre adultos também. Basta olharmos à nossa volta e vermos como, nos mais variados contextos, os adultos não se comportam melhor do que as crianças, nem de forma mais digna ou racional. Basta ir até às Redes Sociais durante uns minutos.
    Acredito que a solução a muito longo prazo para isso é a educação social e o exemplo que damos aos nossos filhos, pelas pessoas que somos. Se cada um fizer bem a sua parte, de forma consciente e todos os dias, acredito que o bullying acabe se diluir.

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