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Os filhos não têm número

Fui com a Luísa fazer o teste do pezinho, já há uns dias.
Quando entrei, o enfermeiro perguntou-me se me podia sentar por uns 5 minutos.
Não percebi a pergunta.
- Sabe que há mães que não se conseguem sentar.
Sei muito bem, pensei eu. No meu primeiro parto demorei 15 dias a não ter dores.
Depois perguntou-me quantos manos tinha a Luísa em casa e percebi que eu devia estar com uma atitude descontraída.
Quando fui fazer este teste, há 5 anos, não me sentei e chorei. Muito. E queria matar o enfermeiro, a verdade é esta.
Isto é, o que para mim, muda à medida que vamos tendo filhos. A forma como encaramos algumas coisas, o jeito que vamos apanhando, a descontração.

Continuo a sofrer por dentro sempre que eles sofrem, estão doentes ou passam por alguma destas provações, mas provavelmente reajo para dentro, nem sempre, mas algumas vezes.

Mais nada muda.

Não saio com eles à rua mais cedo, não dou menos tempo de mamar, não dou comidas antes de tempo, não passo a dar banho só 3 vezes por semana. Sou uma chatinha com os tempos deles, com sestas, com rotinas e isso pouco muda do "um para o dois e do dois para o três".

Muda a necessidade de adaptação de uns e outros para estarmos todos mais ou menos equilibrados.

Os pós partos também vão sendo cada melhores, mais fáceis, mais rápidos. As compras de roupa nova são (muito) menos, a roupa em segunda mão, muito mais. Vai-se sendo mais prático por uma questão de logística e pouco mais.

Cada gravidez, diferente. Cada parto diferente. Cada bebé, diferente.

Não faço tudo com uma perna às costas, não deixei de precisar de dormir, não tenho mais resistência, não estou imune a choros, nem birras. Nem sinto menos amor. Por um, por outro. Sinto mais, por todos.

Também isto se gere. E também isto é novo.
Há um bebé recém nascido numa casa já ocupada por muita gente. Um bebé que estamos a conhecer, todos. Mãe, pai e irmãos. Um bebé novo que nada tem a ver com os irmãos para além dos traços físicos. É única e especial. A Luísa não é a minha terceira filha. Tenho vindo a descobrir que os filhos não têm número. Tudo nela é novo e excepcional. E come de forma diferente, dorme de forma diferente, chora de maneira diferente. Também o meu amor por ela é e será diferente e a minha relação com ela ímpar, como é com os seus irmãos.
A Luísa não é "só mais um", a fazer número, como se nada fosse. A ocupar mais um bocadinho a casa. A Luísa foi a terceira a nascer, só isso. E a completar um sonho.

Ter um terceiro filho e apenas 15 dias depois está a ensinar-me muito. Por causa dela amo ainda mais os meus outros filhos, por causa dela vejo-os de forma diferente e com tanto orgulho, por causa dela tento ser melhor mãe.
Também por causa dela me apaixonei um bocadinho mais pelo meu marido e isso importa dizer. Vê-lo ser pai de três filhos, vê-lo cuidar de dois tão bem enquanto eu não pude, vê-lo aproximar-se deles mais ainda.

Os filhos não têm número mesmo. São só a soma de tudo.

Comentários

  1. Obrigado pela partilha. Enriquecedora e verdadeira!
    E felicidades para a Luísa, os irmãos e os Pais. Obrigado por serem uma família!

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  2. Adoro a forma tao real sensível e carinhosa que escreve.parabéns, felicidades

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  3. Adoro a forma tao real sensível e carinhosa que escreve.parabéns, felicidades

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