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Comovi-me quando desisti.

Não gosto de teorias.
Não gosto porque sou preguiçosa e as teorias obrigam à consistência e não gosto porque a sua existência nos aponta o dedo e nos diz que estamos sempre  a falhar.
Tento ter bom senso, seguir as minhas teorias e as que construí com o meu marido. E nem lhe chamo teorias, são coisas que para aqui andam e que achamos correctas e que às vezes caem por terra com tudo atrás. 
Há teorias para tudo mas o prémio vai para a maternidade. 
É uma tecla batida mas constante, não passa de moda, e há sempre opiniões acerca de todas os aspectos que envolvem isto de ser mãe. 
Os pais estão fora. Estão a ver a bola, a pensar em coisas interessantes ou em nada de especial e interessa-lhes muito pouco o que diz este e aquele sobre a sopa do bebé. Faz sentido. Porque o que é normal é interessar-nos só a nós, ser importante só para nós, ser certo só para nós. 
Foi quando desisti das teorias que me comovi. 
Três horas para adormecer a minha filha que é a excepção à regra da teoria que os terceiros nascem ensinados e ela a chorar, a querer chucha, a tirar chucha, a chorar e enrolo-a no pano, tiro-a do pano por causa do calor, ela a chorar e eu quase a sentir raiva dela, algum desespero e tanto cansaço. Porque há mil teorias para fazer dormir um bebé mas se ele não quer ele não dorme e o cansaço dos pais acumula e aguentamos até aguentarmos. 
Até que desisto da teoria (e não encontrei nenhuma solução milagrosa que me garanta dias descansados e sonos de bebé como deve ser). 
Peguei nela ao colo, enroscada, sentei-me na cama e fiquei quieta, a respirar fundo. A procurar calma, a procurar paz, a procurar-nos juntas. 
Ela pôs a mão em cima da minha e eu fiquei ali, só a vê-la. Mãos minúsculas. Toda ela minúscula. As duas em silêncio e eu num caminho muito mais introspectivo que ela. Ela a deixar-se levar pelo cansaço do tempo de luta, eu a deixar-me vencer. E ficámos ali, muito pouco tempo, até que adormeceu, a pus na cama sem malabarismos, lhe dei um beijinho e ficou. Não me lembro quanto tempo dormiu. Se muito se pouco. 
Sei que me comovi. 
E que aquela imagem foi tudo aquilo que penso sobre a paternidade. Sem modos de ser. Sem teorias. Sem rodeios. Dar-lhes o que precisam e receber quando menos esperamos. 
Na vida real estar três horas para adormecer um bebé e depois conseguir fazê-lo de um momento para o outro é incomportável com o dia a dia, com a sanidade, e conseguir encontrar romantismo nestas horas de caos é praticamente impossível, mas aquela imagem e aquele momento, já ninguém mos tira. 
Obrigada aos meus filhos por me fazerem desacreditar das teorias. Sei que sou muito mais feliz assim, mais justa comigo e também com eles. 

Comentários

  1. A minha 2ª filha ensinou me que as teorias são muito bonitas, mas não funcionaram com ela. Da minha 1ª filha comecei aos poucos a abandonar certas "teorias", certas coisas que os nossos pais sempre nos disseram... porque ficávamos mais cansadas e não funcionavam. Por que os nossos filhos querem colo, querem mimo, amor e sentir o cuidador enquanto são pequeninos. Viva as não teorias :) Beijinhos e muito amor***

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  2. Eu sou anti teorias! Teorias são pensamentos estereotipados!!
    Eu tenho as minhas convicções! Cá em casa temos discutimos e implementamos convicções!!!
    Achamos que X é o melhor para os nossos filhos? Então X é bom!

    Hortelã Pimenta | Facebook | Instagram

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  3. O amor até nos silêncios é compreendido e fortalecido. Basta isso: ser amor. Estou em lágrimas. Depois de dias difíceis só mesmo o amor para reconfortar ❤

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  4. As teorias são muito bonitas, mas são isso mesmo e só: teorias...podem funcionar ou não...
    por cá tenho algumas convicções, às vezes funcionam, outras não... vamos aprendendo uns cons os outros e adaptando-nos... cada dia é um dia, e há sempre novas aprendizagens a fazer...
    Beijinhos e um bom 2018!

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