Avançar para o conteúdo principal

De mãos a abanar

Há 7 anos, estava grávida da Leonor, 13 semanas. Fui trabalhar como num dia normal e esse foi, sem eu saber o meu último dia de trabalho. Tal como o trabalho é entendido. 

A empresa fechou. Abriu falência e na minha inocência encarei com leveza. Seria só um intervalo. 

Mal sabia. Que primeiro um filho depois outro e depois outro e o mundo virado de pernas para o ar e uma coisa leva à outra e eu nunca mais tive um horário fixo. Nunca mais tive um ordenado. Nunca mais tive timings prazos obrigações exigências. Ou alguém mais velho do que eu a exigir.

E no entanto tive horários tão rígidos dias tão difíceis tantas noites em branco. Tive reuniões consultas passeios brincadeiras. 

Dei mimo 24 horas por dia, estudei os meus filhos de fio a pavio e tentei que também beneficiassem da minha decisão. Ensinei músicas, os sons dos animais, os números os transportes. Levei ao jardim à praia ao parque. 

Fiquei com eles em casa quando estavam doentes. Fui a todas as festas reuniões encontros da escola. 

Continuei activa de forma a que as pessoas - mais do que eu - não se preocupassem com a minha sanidade.

Trabalhei para agências, para revistas, escrevi um livro, o meu segundo, editei vídeos criei um blog e escrevi artigos. 

A minha decisão de ficar em casa com eles não foi uma decisão minha. Nunca poderia decidir isto sozinha. Foi uma decisão nossa. 

Uma decisão que ainda muitas pessoas não compreendem. Mesmo explicando que os horários do meu marido e os meus horários de publicitária nos iam impedir de ver os nossos filhos e muito provavelmente de construir uma família. Tal como a concebemos, a idealizámos.

Nunca estive de mãos a abanar. Quando não tinha trabalho tinha a casa e quando não era a casa eram eles e às vezes muitas vezes e vezes demais, era tudo ao mesmo tempo. 

Tenho orgulho do que fiz e muito provavelmente só eu - só nós -  saberemos dos nossos dias tal e qual eles foram. 

Como nos basta vê-los crescer assim. Seguros fortes saudáveis educados brincalhões asneirentos livres. 

Espero que o futuro me traga a possibilidade de poder ser a mãe que eles precisam, que se orgulhem e que possam sempre contar comigo. Connosco. Com a sua família. 

No próximo setembro vou andar nervosa. Vou andar expectante. Talvez apática por delegar na escola metade do meu dia. O meu trabalho a tempo inteiro. Por entregar os meus três filhos e ficar a gerir com muito mais espaço,  tudo o resto. 

Vou andar de mãos a abanar, com a alma abalada e meio à deriva não tenho dúvidas. Certa de que há um tempo para tudo e de que estes 7 anos foram o trabalho mais bem pago de todo o sempre. Sorte a minha que um dia grávida de 3 meses, fui despedida.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

23 semanas (e um dia)

Passaram 15 dias desde a última actualização e tudo está maior. Eu no geral e também a minha barriga. Fizemos a ecografia morfológica e é impossível a Luísa estar mais saudável e mais enérgica. Durante toda a ecografia não parou e mostrou-se em toda a sua beleza. A médica disse que ela grande e gordinha. Está do tamanho de uma papaia, com cerca de 550 gramas e quase 30 cm! Comigo também está tudo óptimo e não há sinais de parto prematuro - que temos sempre em conta uma vez que no início tive um descolamento. Não tenho azia, nem dores no corpo, nem de cabeça e só ao final do dia, quando me sento, é que sinto o peso todo do dia ali mesmo no sofá. A fase em que estou é óptima porque ainda me mexo e durmo bem, apesar de estar com o sono muito mais leve. Mas de longe esta é a gravidez que mais me está a custar. Primeiro porque não estou mais nova, depois porque - e este é o grande motivo - tenho um filho que ainda quer colo e a quem ainda lho quero quero dar, e muito. E brincar, e correr...

Quem é amiga?

Todas as famílias passam por isto. Escolher as refeições. No meu grupo de amigas, passamos a vida a pedir ideias sobre o que cozinhar. Para a família, para os amigos, para um jantar especial. As ideias para a semana Mas o mais difícil é mesmo a organização da semana, cozinhar para a casa, coisas boas, que todos gostem e ir às compras a contar com isso tudo. Se a semana estiver organizada, a lista das refeições feita, então não há como não correr tudo melhor. Cá em casa é sempre como calha. Normalmente vou às compras à segunda feira - para mercearia, talho e afins e a fruta e legumes vou comprando ao longo da semana- Já aprendi que à segunda feira não é bom. Penso de cabeça o que vou fazer e compro na hora. Mas a quantidade de vezes que vou ao supermercado é uma perda de tempo e consequentemente de dinheiro. As receitas. Duas por cada dia Eis que surge A IDEIA. E não estaria a escrever isto se não fosse mesmo a ideia mais espectacular que vi nos últimos tempos. Chama-se ...

sair para descansar e não descansar

Quando crescemos, a maior parte de nós, que tem uma vida normal e um trabalho normal e uma rotina normal deixa de sentir adrenalina. E quando a voltamos a sentir, relembramos os tempos da adolescência em que fazíamos coisas parvas para termos este gozo que só algumas coisas nos dão. Estávamos todos a precisar de sair de Lisboa. É que Lisboa é linda mas cansa e mesmo que com filhos nunca se descanse, sair da (nossa) cidade é por si só um enorme descanso. O Aquashow Hotel teve a gentileza de convidar esta família de 5 para um fim de semana e nós, aproveitámo-lo bem. O Hotel é todo ele simpático e animado. Toda a gente é simpática, no restaurante, na recepção, no bar. E isso é logo meio caminho andado para nos sentirmos bem. Os quartos são óptimos e ficámos muito confortáveis uma vez que o nosso quarto era familiar com dois quartos independentes com uma porta comunicante. Varanda espectacular com vista para a piscina. O pequeno almoço é para todos os gostos e há de tudo e deu ...