Avançar para o conteúdo principal

2020/2021

No outro dia o Zé Maria disse que o dia em que mudou de escola foi o pior dia de sempre. Nesse ano, mudaram todos de escola. A Leonor entrou para o primeiro ano, o Zé Maria para o segundo ano do pré escolar e a Luísa entrou na creche pela primeira vez  (e depois acabou por sair e ficar comigo mais um ano). Estávamos todos arrasados emocionalmente. Lembro-me que tive que deixar o Zé Maria e ficar com a Luísa na sala. Ele diz que chorou o dia todo.
Nunca pensei que se lembrasse com tanto pormenor. Foi há 3 anos. 
Está especialmente nervoso este ano. Vai entrar para o primeiro ano, depois de sete meses em casa. Diz que não quer ir apesar de todo o nosso incentivo e até da Leonor que adora escola e lhe diz que vai ser espectacular. Os meus filhos nunca foram de amar a escola. E eu sou forte promotora porque se for bom, é óptimo. A Leonor quando entrou com um ano esteve 15 dias sem comer e sem dormir. Diziam que ela estava muito apegada a mim, como se isso fosse mau. Como se ter estado com ela 1 ano em casa me tivesse atribuído essa culpa. Hoje em dia adora. A Luísa entrou com dois e acabou o ano passado sem a sentir adaptada. Nunca foi com vontade para a escola. 
Eles não são todos iguais. Nem na mesma casa quanto mais nessa vida fora.
Sei muito bem que há escolas em que os pais nunca sequer entraram, que os filhos ficam nos portões e bola para a frente. Acho óptimo, se for óptimo para todos.
Sei, porque conheço os meus filhos melhor do que ninguém neste mundo que não vai ser óptimo deixar o Zé Maria entrar sozinho no primeiro dia do seu primeiro ano. Sei que vai ser muito difícil entregar a Luísa a um perfeito desconhecido no seu primeiro dia de uma escola nova. Sei que isso não é de todo correcto a tantos níveis. Mesmo que o ambiente seja conhecido. Mesmo que saiba que os irmãos estão por lá. Tem 4 anos e não sabe sequer o que é um vírus. A educadora que conhecia não está lá. O ambiente é outro. O hábito de receber abraços à chegada é o que conhece e sempre viveu. Já nem falo das máscaras, do distanciamento, do controlo... Tudo isso me arrepia em ambiente escolar.
Não sou inconsciente e sei que não são só as crianças que precisam de protecção, que se presume - embora não se provando ainda- que elas sejam os grandes portadores e transmissores do vírus,  que na escola há todos os cenários familiares e individuais possíveis e que é preciso ter cuidado. Tenho tido esse cuidado, por eles, por nós e pela minha família.
Sei que quanto mais pessoas juntas maior probabilidade de contagio. Que quanto menos ajuntamentos houver, melhor. Mas a certa altura há medidas que não se devem sobrepor à criança e às suas necessidades.
Há quem veja isto como um não assunto porque de uma maneira ou de outra os seus filhos não precisam deste cuidado, mas talvez precisem de outros.
A escola não é um depósito, não estamos todos ansiosos para que vão só porque estamos cansados mas porque eles precisam de vida e normalidade. Acredito que as escolas se sintam entre a espada e a parede, entre segurança e colo, entre manter distâncias e continuar por perto. E os pais também. A dúvida está onde se centra a regra e por onde começa. 
 

Comentários

  1. Olá Ana, o meu filho de 6anos também vai para o primeiro ano felizmente a escola é a mesma (mudou no ano passado) mas n vai deixar de ser estranho deixá-lo à porta da escola.
    Vou ficar com o coração apertado mas tenho noção que eles precisam de alguma normalidade❤️
    Ana

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

Um minuto é uma eternidade.

Exausta. Feliz. Mais perto. Quando vejo os vídeos sinto-me sempre meio desengonçada e lenta mas quando estou no chão a fazer os exercícios sinto que estou a dar o tudo por tudo. E estou. É sempre estranho vermo-nos a fazer alguma coisa a que o nosso corpo não está habituado. Há algum constrangimento e até vergonha. Mas o importante é manter o espírito e pensar que se não passar por esta fase inicial nunca vou evoluir. Não nasci desportista nem fiz muito desporto em miúda, só ginásio quando andava na universidade -  máquinas e aulas, alguma natação mas nada muito prolongado no tempo. Joguei ténis em miúda mas o meu pai dizia que eu ligava mais aos kits, saias e ténis do que propriamente ao desporto. Depois nunca mais fiz nada até nascer a minha filha. Fui novamente para o ginásio mas durou pouco porque não conseguia arranjar tempo. Quando engravidei do meu filho estava a correr duas vezes por semana há um mês e parei. Há coisas que claramente não faço na perfeição ma

Uma bolha para os meus filhos

Gosto de viver a acreditar que nunca nada de mal lhes acontecerá. No dia a dia caem, magoam-se e vivem como crianças normais cheias de mazelas e marcas de guerra e nódoas negras. Partem dentes e fazem galos.  De vez em quando passam por grandes sustos e parece que está constantemente alguma coisa quase a acontecer e eles são salvos por anjos da guarda como este ano várias vezes nos aconteceu.   Angustia-me pensar para além disto. Não gosto de pensar em doenças nem em possíveis acidentes mas a verdade é que somos todos vulneráveis à vida e eles não podem viver numa bolha ou isso não é viver. Mas ajuda se os protegermos das eventualidades que não são assim tão raras quanto isso.  Como andar na estrada.  Odeio andar de carro. Acho que as pessoas guiam sem amor à vida e sem respeito ao próximo. Andam a abrir e sem respeitar regras nenhumas. Descarregam frustrações e é realmente perigoso fazer viagens nas nossas estradas.  Tenho medo de andar de carro e por isso gosto de saber

Treino #8 e a motivação

Quando comecei este projecto, há pouco mais de um mês tinha dois medos. Top desta loja espectacular In'OutSports Um de ser uma pessoa absolutamente normal que faz milhares de asneiras com a alimentação, que não é nem pretende ser perfeita ou um exemplo a seguir e que quer mudar a vida mas não mudar de vida , e isso tornar-me numa pessoa sem interesse para um blog e para um projecto que se tornou público. O meu outro medo era não ser capaz. Mais do que não ser capaz fisicamente, era ter preguiça, não me apetecer, arranjar desculpas para não treinar. Desistir. Depois há um clique que nos faz querer usar o esforço para nos sentirmos bem, é o sentimento de eu sou capaz, que é completamente recompensador. Esse clique é o que me falta muitas vezes quando tenho opção saudável e opção menos saudável para uma refeição e escolho a pior. Acho que é o grande problema de todas as mulheres e de todas as pessoas no geral que gostam de comer. Aquele segundo antes de asneirar. A emoçã